Viúva de Gal Costa, Wilma Petrillo é acusada de dar golpes, assédio moral e de ter levado cantora à falência
Desde que Gal Costa morreu, aos 77 anos, em novembro do ano passado, a viúva Wilma Petrillo tem sido acusada por fãs e pessoas próximas à cantora de não realizar os desejos da artista, como por exemplo ser sepultada ao lado da mãe no jazigo da família, no Rio. Por decisão de Wilma, Gal foi enterrada em São Paulo. A edição deste mês da revista “Piauí” traz uma grande reportagem com fortes acusações contra Wilma Petrillo.
De acordo com a publicação, além de não respeitar a vontade da cantora, a empresária teria aplicado golpes financeiros, feito ameaças, além de ser acusada de assédio moral contra funcionários e de ter levado Gal Costa à falência.
Seis ex-funcionários, seis amigos e um parente deram seus depoimentos para a revista. O médico Bruno Prado, que se tornou amigo de Gal Costa e Wilma Petrillo, contou que certa vez Wilma pediu a ele uma quantia entre R$ 10 e 15 mil para realizar uma cirurgia nos olhos.
Este procedimento teria sido o que a cantora realizou recentemente, antes de morrer. O médico emprestou o dinheiro, mas disse não ter recebido o pagamento no prazo combinado e, com isso, começaram os problemas entre ele e Wilma.
A empresária teria passado a evitá-lo e deixou de convidá-lo para shows e para a casa de Gal. De acordo com a reportagem, Wilma também teria aplicado golpes em outras pessoas do círculo cultural de Salvador e amigos da cantora estariam preferindo manter distância da empresária.
Após cobrar Wilma, Bruno, que é gay, começou a receber ameaças. “Se você continuar me cobrando, eu vou fazer uma coisa muito bonitinha: conto pro teu pai que você é viad*”, relembrou o médico na entrevista à “Piauí”. “Quando ela falou isso, eu tremi”, completou. Depois disso, ele decidiu mandar um email para Gal Costa explicando tudo o que estava acontecendo e a cantora prometeu a ele que Wilma iria pagar a quantia que estava devendo.
Ainda assim, Wilma Petrillo teria seguido com as ameaças. “Você vai tomar uma surra tão bonita que vai aprender a respeitar os outros. Ela dizia coisas como: ‘você não tem vergonha de pedir dinheiro para uma mulher mais velha, sua bicha?'”, contou o médico.
De acordo com a reportagem, Bruno chegou a fazer um boletim de ocorrência na época das ameaças. Ainda assim, Wilma continuou tentando assustá-lo. Durante uma viagem a Nova York, ela teria ligado para Bruno e dito que sabia qual era o hotel em que ele estava hospedado e que ‘conhecia gente que poderia dar um jeito nele’, já que Wilma tinha morado em Nova York por um tempo.
O médico decidiu viajar para outro estado dentro dos Estados Unidos e só então recebeu o dinheiro que havia emprestado para Wilma. Depois disso, ele nunca mais falou com a empresária, nem com Gal Costa.
Assédio moral
O produtor Ricardo Frugoli também deu seu depoimento e disse que tem péssimas lembranças do período em que trabalhou com Wilma Petrillo. Segundo ele, Gal Costa teria perdido oportunidades de shows no Brasil e na Europa por conta do comportamento de sua companheira. Wilma teria feito acusações infundadas de roubo e furto contra funcionários, causado intrigas e algumas pessoas da equipe teriam ficado depressivas por conta das humilhações sofridas nos bastidores.
Quando a situação ficou insustentável, Ricardo comentou com Gal o que estava acontecendo, mas a artista teria ficado furiosa ao saber que poderia estar sendo roubada e os dois nunca mais tocaram no assunto. Ele contou que mesmo sofrendo bullying por parte de Wilma, continuou a trabalhar com Gal Costa por conta do carinho que tinha pela artista.
“Durante muito tempo, fui o cara que não deixou a bomba explodir. Continuar ali era importante para protegê-la do que vinha acontecendo na carreira e dentro de casa”, disse o produtor, que também chegou a fazer um boletim de ocorrência contra Wilma. Ele foi demitido quatro dias depois da denúncia.
Buraco negro
Ao morrer, Gal Costa deixou para o filho, Gabriel, um apartamento no bairro dos Jardins, em São Paulo. O imóvel foi comprado em 2020 pelo valor de R$ 5 milhões. De acordo com a reportagem, este foi o item de maior valor que a artista deixou para seu herdeiro. Ume ex-funcionário que trabalhou com Gal até sua morte disse à publicação que sua conta bancária era “um buraco negro”.
Todos os entrevistados concordaram que a situação financeira de Gal Costa foi minada no período de tempo em que a cantora esteve com Wilma Petrillo. Existiam dívidas altas de restaurantes, mensalidades da escola de Gabriel, pagamento de empregados e até com a Receita Federal dos Estados Unidos.
A empresária teria, inclusive, barrado um show de Gal no Carnegie Hall, em Nova York. “Na próxima vez que ligarem, diga que a Gal não gosta de se apresentar nos Estados Unidos”, teria dito a um funcionário. Ao repassar para Gal a proposta e a resposta de Wilma, a artista negou. “Isso é mentira”, teria dito.
A amigos, Gal Costa disse que tinha medo de retornar aos Estados Unidos e ser presa, já que Wilma tinha vendido um apartamento da cantora no país e não tinha pagado os devidos impostos.
Relação abusiva
Um dos funcionários entrevistados pela reportagem diz ter presenciado uma discussão entre Wilma e Gal Costa. “O dinheiro entra e some, as dívidas não param de chegar. Que tipo de empresária é você?”, teria perguntado a artista. “Você é uma velha, as pessoas não querem mais te contratar”, teria rebatido Wilma. Ainda de acordo com o funcionário, a briga se tornou um confronto físico.
Apesar da insatisfação, Gal teria receio de largar Wilma. “Se largar Wilma, ela leva metade de tudo que eu tenho, sem nunca ter trabalhado de verdade para conseguir alguma coisa”, teria dito a cantora. A atriz Sonia Braga também se afastou de Wilma Petrillo após supostamente levar um golpe. A atriz, no entanto, não respondeu às tentativas de contato da revista “Piauí”.
Afastamento de familiares e amigos
Guto Burgos, irmão de Gal Costa, disse que Wilma Petrillo o afastou da irmã em 1997 e que não participou da vida da cantora nos últimos anos. “Por favor, eu não quero mais falar disso. É um assunto que me dói muito”, disse à reportagem.
Segundo o irmão da artista, Gal tinha oito salas comerciais no Rio, que lhe rendiam alugueis, uma cobertura e um apartamento na Praia Guinle, que é um condomínio de luxo na Praia de São Conrado, na Zona Sul da cidade. A revista “Piauí” também encontrou quatro salas comerciais no Leblon e dois imóveis em São Conrado, todos registrados no nome de Gal. “Também tinha imóveis em Salvador, Trancoso e Nova York. Como dói saber que ela morreu sem nada disso. Parece que todo o trabalho dela foi em vão”, disse.
Gal também tinha uma granja em Petrópolis, local em que passava fins de semana com a atriz Lúcia Veríssimo, com quem já namorou. O espaço foi vendido pelas artistas em 1992, virou uma escola e, mais tarde, uma pousada.
O médium Halu Gamashi acusa Wilma de ser ciumenta e, por isso, ele tinha que se encontrar com Gal Costa às escondidas. Segundo ele, em 1995, escutou Wilma perguntar para a cantora se ela não sentia vergonha por estar tão gorda. “Você está pensando que é quem, Nana Caymmi?”, teria dito Wilma. O médium disse que sempre estranhou o fato de Gal Costa não responder e aceitar calada.
Carreira e prejuízos
Segundo o produtor Rodrigo Bruggermann, Wilma Petrillo foi “uma das piores pessoas” com quem ele já trabalhou. Responsável pela turnê “Recanto” nas cidades do Sul do Brasil, ele detonou a viúva de Gal Costa. “Além de ser grosseira, ela fazia mudanças de última hora e aplicava taxas surpresa”, disse. Ele também contou que a cantora não podia fazer participações especiais nos shows de outros artistas porque Wilma não deixava. “Provavelmente nem deixava os convites chegarem até ela”, revelou.
O empresário Maurício Pessoa relembra um momento complicado que passou com Wilma e Gal. Em 2013, ele conseguiu um patrocínio de R$ 700 mil da Natura Musical para a realização de seis shows e gravação de um álbum ao vivo em que Gal interpretaria canções de Lupicínio Rodrigues. Wilma, no entanto, exigiu receber 80% do valor imediatamente, ou seja, R$ 560 mil. Só depois disso ela aceitou dar andamento às apresentações, que aconteceram apenas em 2015, aos trancos e barrancos. “Wilma sempre dizia que a agenda da Gal estava apertada”, relembrou o empresário.
Quando chegou o momento de gravar o álbum, Wilma parou de responder às suas mensagens. Quando finalmente conseguiu falar com ela, a companheira de Gal Costa disse que a artista não tinha mais disponibilidade para continuar no projeto. A gravação do álbum foi marcada para 2017, mas ninguém apareceu no local. Com isso, a Natura não pagou os R$ 140 mil restantes e o empresário estima ter ficado com um prejuízo de mais de R$ 1 milhão.
Sepultamento
Quando Gal Costa morreu, Guto Burgos, irmão da cantora, mandou um recado para Wilma alertando de que Gal tinha o desejo de ser enterrada no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, ao lado da mãe, onde a cantora tinha um jazigo perpétuo. Ainda assim, Wilma decidiu que a cantora seria sepultada no Cemitério da Consolação, no mausoléu da família dela.
Procurada para comentar as acusações, Wilma não respondeu as tentativas de contato e ainda bloqueou o repórter da “Piauí” no WhatsApp. O advogado da viúva de Gal Costa mandou uma “advertência” para a revista, solicitando que a reportagem não fosse publicada, sob pena de sofrer “as medidas judiciais cabíveis”.
O DIA mantém o espaço aberto à empresária, caso ela deseje dar a sua versão do caso.